Perdas de Água: Desafios e Controle

Perdas de Água: Desafios e Controle

Basicamente, as perdas de água nos sistemas de abastecimento correspondem à diferença entre o volume total de água produzido nas estações de tratamento e à soma dos volumes medidos nos hidrômetros instalados nos imóveis dos clientes.

Por definição, as perdas de água estão divididas em dois tipos.

As perdas de água físicas (ou reais) consideram os vazamentos em todas as etapas do processo, desde as estações de tratamento de água até os pontos de entrega nos imóveis dos clientes e os volumes utilizados para a limpeza das próprias estações de tratamento. Existem dois tipos de vazamentos: os vazamentos visíveis, que afloram na superfície do pavimento e das calçadas, sendo informados pela população e rapidamente reparados; e os vazamentos não visíveis, que não afloram na superfície e cuja localização depende da realização de ações de varredura nas redes e ramais para sua localização, com a utilização de equipamentos por métodos acústicos. Esse tipo de perda relaciona-se diretamente com a eficiência operacional da companhia e o estado das tubulações.

As perdas de água comerciais (ou aparentes) correspondem aos volumes de água que são consumidos, mas não são contabilizados pela empresa, principalmente devido às irregularidades (com fraudes e ligações clandestinas, os chamados “gatos”), ligações sem hidrômetros ou com hidrômetros com defeitos, erros de leitura e erros cadastrais e à submedição dos hidrômetros. Assim, a parcela de perdas não físicas ou aparentes representam, basicamente, perda de faturamento da empresa, não equivalendo à perda física do recurso hídrico.

Essa perda está ligada aos procedimentos da companhia, manutenções preventivas, adequação dos hidrômetros e monitoramento do sistema. É importante destacar que as perdas comerciais impactam consideravelmente o faturamento das empresas de saneamento.

Portanto, o nível de perdas de água nos sistemas de abastecimento está diretamente ligado às condições da infraestrutura instalada e à eficiência operacional e comercial.

É importante que a população saiba que no Brasil são extraídos mais de 16 bilhões de m³ de água por ano dos mananciais hídricos (segundo dados da SNIS 2018) que são transformados em água potável. As “perdas de água”, representam um enorme desperdício, cujas consequências danosas são sentidas por toda a sociedade, além dos prejuízos causados ao meio ambiente.

Não existe perda “zero”, ou seja, todos os sistemas de abastecimento do mundo, por melhor que seja a infraestrutura e sua operação e manutenção, possuem perdas de água.

No Brasil, para cada 100 litros de água captada, tratada e pronta para ser distribuída, 38 litros são perdidos no caminho por vazamentos, erros de leitura, furtos e outros problemas.

Essa foi a conclusão do estudo do Trata Brasil que revelou o índice médio de 38,3% de perdas no país. Em volume, isso significa 6,5 bilhões de m³ de água tratada jogada fora.

Apenas com essa perda, seria possível abastecer 30% da população brasileira por um ano. E concomitantemente, se a água que os consumidores utilizam fosse corretamente medida e faturada, em termos de valores seriam acrescidos R$ 12 bilhões ao ano de receita às empresas de saneamento básico (valor superior ao investimento em água e esgotos no mesmo período: R$ 11 bilhões), que poderiam ser investidos na qualidade e universalização dos serviços de água e esgoto.

Haveria outros ganhos recorrentes como na saúde pública, com a diminuição de doenças relacionadas à água e esgoto; equilíbrio econômico das empresas de saneamento básico; recuperação da receita sobre a água consumida; otimização de investimentos na produção de água e tratamento de esgoto; potencialização das empresas de saneamento básico para realizar investimentos na universalização dos serviços de água e esgoto, o que resultaria na melhoria na qualidade dos serviços prestados, na cobrança justa pela água consumida e na prática de tarifas adequadas.

O estudo também analisou o histórico do balanço hídrico com os indicadores disponíveis no SNIS. É possível perceber que houve um aumento na produção de água, ou seja, mais água está sendo captada da natureza ao passo que o índice de perdas também aumenta.

Perdas de Água: Desafios e Controle

Fonte: Instituto Trata Brasil e GO Associados

Quando comparado com outros países, o Brasil fica atrás de países menos desenvolvidos como Bangladesh, Uganda e África do Sul. Países mais desenvolvidos, como Japão e Cingapura, mantém seus índices de perdas abaixo dos 10%.

Ações para o combate às perdas

O combate às perdas demanda um esforço permanente, pois as perdas de água têm uma tendência natural de aumento, ou seja, se nada for feito as perdas aumentam pois, com o passar do tempo, a infraestrutura envelhece, surgem novos vazamentos, os hidrômetros perdem precisão e as irregularidades aumentam. Assim é preciso realizar um nível de esforço e aplicação de recursos para evitar que as perdas aumentem, e um nível adicional para reduzir as perdas.

As principais ações para o combate às perdas físicas ou reais são:

- gerenciamento de pressões a partir da execução de obras de setorização dos sistemas de distribuição de água, incluindo a instalação de válvulas redutoras de pressão em áreas específicas com pressões elevadas, para reduzir e estabilizar as pressões de modo a reduzir a quantidade de novos vazamentos e a vazão dos vazamentos existentes;

- varreduras para localização de vazamentos não visíveis;

- reparo dos vazamentos visíveis e não visíveis em redes e ramais;

- renovação da infraestrutura com a substituição de redes e ramais antigos e deteriorados;

- execução de obras de adequação dos setores de abastecimento, com melhoria dos níveis de pressão nas redes e a redução do tamanho das áreas de controle, de modo a otimizar sua operação e manutenção.

As principais ações para o combate às perdas não físicas ou aparentes são:

- substituição de hidrômetros de modo a se obter a medição precisa dos volumes entregues aos clientes;

- combate a irregularidades (“caça-fraude”).

É importante salientar que, seguindo a Lei das Águas, a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico. É preciso que todos entendam e unam esforços a fim de garantir esse recurso valioso para todos os brasileiros e às futuras gerações.

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Por Gabriela Marques dos Ramos


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