Reuso de Água na Indústria: Histórico e Oportunidades
Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), a população mundial pode exceder os 9 bilhões em 2050, com a população urbana passando de 3,4 para 6,4 bilhões. Caso esse crescimento não seja acompanhado por investimentos em saneamento, haverá a escalada do número de pessoas vulneráveis aos impactos da baixa qualidade da prestação de seus serviços, especialmente abastecimento de água e coleta e tratamento de esgoto.
Em 2017, 17% da população brasileira não era atendida com abastecimento de água, 36% não contava com coleta de esgoto e mais da metade (52%) do esgoto produzido não era tratado. O quadro também é grave no estado do Rio de Janeiro, onde 8% dos cidadãos não possuíam acesso à rede de abastecimento de água e 32% não contavam com coleta de esgoto. Além disso, 64% do esgoto produzido não era tratado.
Uma das maiores fontes de poluição dos rios sempre foram os dejetos provenientes da produção industrial, consideradas pela população como as maiores poluidoras do meio ambiente.
O Parque Industrial Brasileiro pertence à 9º economia mundial e corresponde por 22,7% do Produto Interno Bruto (PIB), possui 512.436 mil estabelecimentos industriais que empregam 10 milhões de trabalhadores e corresponde por 40% das exportações realizadas pelo país (Dados de 2018).
Na média nacional, o consumo industrial de água tem uma demanda hídrica de 104,92 m³/s, gerando uma quantidade enorme de esgoto, geralmente descartado sem o devido tratamento e contaminando os recursos hídricos. Além do mais, as indústrias também pagam uma tarifa bem mais cara pela água utilizada do que outros consumidores.
Nesse cenário, fontes alternativas para o abastecimento de água são fundamentais para garantia de sua disponibilidade a longo prazo, sobretudo para a indústria, que a utiliza como insumo em diversos processos produtivos. Apesar disso, o Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos de 2017 destaca que a água de reuso ainda é um recurso negligenciado pelos usuários, legislação e regulamentação de muitos países.
No Brasil, o abastecimento industrial com água de reuso a partir da operação de Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) também é uma realidade pouco explorada. Apenas cerca de 20 a 30% das indústrias brasileiras praticam o reuso.
Ainda assim, o bem-sucedido projeto do Aquapolo, em São Paulo, disponibiliza cerca de 1 m³/s de água de reuso para o Polo Petroquímico do ABC, a mais de 17 km de distância da ETE de origem, sendo o maior empreendimento de água de reuso industrial da América Latina.
Para assumir parte de suas responsabilidades com o meio ambiente no que diz respeito à água, as indústrias dos mais variados setores estão começando a virar o jogo com o reuso. Isso porque investir na água de reuso industrial representa não apenas uma forma de cuidar de um recurso que é essencial como matéria-prima e também em vários processos, mas também de reduzir custos. De acordo com especialistas, é possível uma economia de até 50% utilizando o reuso.
Um dos grandes fatores que influenciaram esta mudança foi à outorga para o lançamento de efluentes nos rios que se tornaram cada vez mais caras e restritivas, imposta pela chamada “Lei das Águas” instituída em 1997, lei 9.433, que estabelece mecanismos de cobrança pelo uso da água. Com estas medidas o governo garantiu que as indústrias percebessem as vantagens do reuso da água e implantassem soluções do reuso em sua cadeia produtiva.
Pesquisa recente feita pelo professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Ivanildo Hespanhol, com 2.311 indústrias paulistas de médio e grande porte, aponta que o custo conjunto diário de consumo de água, sem reuso, é de cerca de R$ 1 milhão por dia. Hespanhol estima que, sem grandes investimentos, é possível reusar cerca de 60% do total de água consumida em uma empresa. Ou seja, o custo total dessas 2.311 empresas com água cairia para cerca de R$ 400 mil por dia. Hespanhol acredita que de 20% a 30% da indústria no Brasil pratica o reuso de alguma forma.
No Rio de Janeiro, a Lei 7599/17 determina que indústrias com mais de 100 funcionários situadas no estado instalem equipamentos de tratamento e reutilização de água. As indústrias que não cumprirem a determinação não poderão ser contratadas, firmar convênios ou instrumentos similares, ou receber benefícios ou incentivos do Estado do Rio de Janeiro.
O reuso de água industrial em larga escala possui o potencial de reduzir drasticamente a demanda de água nas zonas urbanas e resultaria em uma melhor adaptação da população aos períodos de seca, diminuindo a possibilidade de racionamentos para a população.
É neste ponto que o conceito de sustentabilidade é colocado em prática. As empresas, hoje de diferentes setores e portes, estão buscando novas tecnologias através de pesquisas com universidades, na busca de novos processos e metodologias para cada vez mais ser eficiente nesta questão.
Esta busca envolve novos equipamentos, processos químicos e físicos que melhorem a eficiência na redução de patógenos e tornem a água um bem que possa ser utilizado por todos, trazendo ganhos econômicos, ambientais e sociais.
Formas de reutilizar a água nas indústrias
Pensar de maneira sustentável, certamente, é o primeiro passo. Na sequência, o ideal é a indústria ter um excelente planejamento, verificando como utiliza esse recurso em cada fase, bem como a quantidade utilizada.
Existem três formas para se fazer isso: o reuso indireto, o reuso direto e a reciclagem interna. Ambos beneficiam e muito a indústria. A diferença é que o reuso indireto, essa água é utilizada e posterior vai para diluição, a fim de ser captada posteriormente.
No reuso direto, a água já é proveniente de um esgoto tratado, por exemplo. E, por fim, a reciclagem interna é aquela em que tudo acontece internamente, ou seja, na própria indústria tratam a água e utilizam-na de diversas maneiras.
É claro que fabricantes de alimentos e bebidas, por exemplo, enfrentam restrições legais em relação à reciclagem: a água de reuso não pode entrar como insumo, mas pode fazer uso dessa água para limpeza de maquinários ou mesmo de seus caminhões de transporte ou ainda, para as descargas de sanitários.
Entretanto, para outros setores da indústria, em que a água é menos utilizada como matéria-prima e mais empregada em processos, a água de reuso é mais do que indicada.
A água de reuso pode ter vários níveis de qualidade. Esse, aliás, é um dos problemas para a ampla adoção da água de reuso no Brasil: não existe legislação que estabeleça as diferentes qualidades da água de reuso e seus usos mais indicados.
A água de reuso pode ser amplamente utilizada na geração de energia, refrigeração de equipamentos, lavagem de carros, irrigação de campos para cultivo, combate a incêndios, limpeza de ruas e irrigação de jardins. Todas essas atividades não precisam de água potável. A reutilização da água promove o uso sustentável de recursos hídricos, diminui a quantidade de esgoto lançada, além de aumentar a disponibilidade de água potável.
Outros usos, que podem ser considerados na implementação de um programa industrial de reuso:
· Torres de resfriamento;
· Produção de vapor;
· Lavagem de gases da chaminé;
· Lavagem de peças e equipamentos
· processos industriais específicos, tais como metalúrgicos, produção primária de metal, curtumes, têxteis, químicas, petroquímicas, papel e celulose, material plástico, construção civil e petroquímica.
Como podemos observar, água é um tema fundamental para nossa sociedade e precisa estar nas discussões em todos os setores da indústria e de governo.
Porém, vale salientar que não existe reuso seguro das águas sem o tratamento adequado dos esgotos.
A Flush Engenharia desenvolve projetos personalizados com consultores especializados, utilizando tecnologias avançadas de tratamento de água e efluentes, possibilitando o reuso em diferentes aplicações.
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Por Gabriela Marques dos Ramos